Em função disso, devo fazer uma declaração que talvez me encaminhe ao apedrejamento: eu ouço Avril Lavigne. A despeito do que possa passar pela cabeça de muitos, penso que um dia ela mostrou algo a mais em relação a todas as outras garotas na indústria musical. Poderia até ser puro marketing, mas era a imagem que chegava até nós; uma música que tinha um tom diferente, um descontentamento com a incessante venda dos corpos das cantoras ao invés do talento das mesmas que verdadeiramente nos fazia repensar se era aquele o nosso desejo, se precisávamos de toda aquela exposição sensual incapaz de engrandecer o potencial artístico daquelas mulheres. Avril não precisava mostrar 80% de seus atributos físicos para fazer sucesso e não parecia disposta a isso. Mas as coisas mudam, não é mesmo?!
Olhando hoje para essa moça (foto 1) não parece haver restado algo daquela menina (foto 2) que abominava a futilidade, as roupas de marca, os cuidados excessivos com a aparência física e todas essas coisas enfiadas goela abaixo das adolescentes como se fossem indispensáveis à sobrevivência delas.
(Foto 1)
(Foto 2)
Não costumo opinar muito sobre famosos, o que fazem, o que deixam de fazer e coisas do tipo. Não me interesso pela vida pessoal deles e, portanto, raramente julgo-os. Ainda assim, pode parecer algo pequeno o efeito das mudanças na carreira de uma pessoa com tanto destaque quanto a Avril, mas, infelizmente, é uma coisa fenomenal. Milhares, milhões e - em casos como Lady GaGa - bilhões de adolescentes tomam seus ídolos como fonte de inspiração, muitas vezes fazendo sua vida girar em torno deles. E como os relacionamentos entre pais e filhos nem sempre são bem sucedidos a situação se complica, fazendo com que os exemplos comecem a vir de fora, sendo, muitas vezes, oferecidos por pessoas que só estão preocupadas com seu dinheiro.
As jovens sofrem hoje com uma pandemia de baixa auto-estima e não podem levar a culpa por isso, porque a mídia as faz crer, de todas as formas possíveis e imagináveis, que há algo extremamente errado com elas. O cabelo não está certo, por isso é necessário alisá-lo, repicá-lo, tingí-lo, jogar mil produtos químicos até que fique bonito; as roupas não são boas o suficiente, portanto a melhor saída é correr para o shopping e comprar algo mais chamativo, que realce mais o corpo; aliás, o corpo também não está certo, porque dois quilos a mais realmente fazem muita diferença e é mil vezes melhor sofrer com anemia/anorexia/bulimia a se olhar no espelho e ver que sua barriga não é lisa como a superfície da mesa da sala; a cor dos olhos também não é tão bonita, por isso seria legal comprar umas lentes de contato coloridas a fim de parecer um pouco diferente; o rosto está com muitas espinhas e ninguém pode ver essa vergonha, então é bom ir à farmácia comprar um produto pra isso e, aproveitando a viagem, adquirir também lápis de olho, rímel, pó, batom, sombra, cilhos postiços, corretor, porque, pra falar a verdade, tudo está um horror e precisa ser mudado. E isso é absurdamente lucrativo, uma vez que, no fim das contas, torna-se melhor acreditar em reencarnação, se matar e tentar voltar num corpo mais belo ou simplesmente procurar mil e uma pessoas em quem se espelhar pra poder mudar sempre e nunca ter que aceitar a sua beleza natural.
Toda essa corrida só gera frustração atrás de frustração, porque nunca se atinje o patamar almejado, a garota nunca se torna sua musa inspiradora. E por quê? Simplesmente porque são duas pessoas diferentes, por mais parecidas que possam se tornar. Esse é o destino absolutamente imutável. Uma fã da Lady GaGa nunca será a Lady GaGa, assim como aquela menina que idolatra a Britney jamais se tornará a Britney. E o mesmo acontece no caso da Avril. Uma artista diferente, que não segue os padrões de beleza impostos, que não vende o corpo para fazer sucesso, que não ressalta a importância de uma aparência física perfeita, que não faz apologia à perda da individualidade é um grande apóio para aquelas e aqueles que não encontram seu lugar no mundo simplesmente por se acharem diferentes demais, feios e feias demais.
Uma pessoa que me surpreendeu recentemente nesse quesito foi a P!nk, com sua nova música "Fucking Perfect". A letra fala sobre tudo aquilo que uma garota sofre em função da beleza externa que a sociedade exige dela e traz alívio para as que se afligem com essa questão. Serve também para meninos, claro, pois homens também recebem cobranças (e muitas, diga-se de passagem). Para quem ainda não viu, deixo o clipe no fim da postagem, que eu penso ser um dos melhores já produzidos. Ela recebeu duras críticas e teve o vídeo classificado como impróprio, mas só mostrou a realidade que muitas tentam camuflar. Quem vende beleza não se importa com a felicidade daqueles que a compram, apenas com o dinheiro que se pode tirar daquilo.
E a Avril começou a vender beleza e música ao mesmo tempo, como se ambas necessitassem estar atreladas. Suas músicas ficaram fúteis, pois agora ela cria uma letra dizendo "qual o problema se eu for a um milhão de encontros?" e "sou rainha do drama, sou a coisa mais foda que seus olhos já viram". Isso, pra mim, não traz nada de bom. Se ela sempre foi desse jeito e se escondeu atrás daquela máscara de menina revoltada pra poder construir sua carreira eu já não sei, mas definitivamente Avril Lavigne não é o que parecia! Só espero que as garotas que se inspiram nela percebam o pouco conteúdo presente em seu trabalho atual e não se deixem levar por essa nova imagem, criada, provavelmente, apenas para vender mais.
Vídeo da P!nk para a música Fucking Perfect
Não importa o quanto tem de conteúdo em Avril Lavigne, Pink, entre outras, sendo se a educação da nossa sociedade - pelo menos para a grande massa - foca somente a aparência, ou seja, a imagem em geral.
ResponderExcluirÉ, o pior que no geral a coisa funciona assim mesmo. Ainda assim, a música influencia demais a todos nós, especialmente os adolescentes, e quando a mensagem passada não é tão boa isso acaba virando uma coisa negativa. Prova é o poder que bandas como Cine, Restart e afins andam tendo sobre o comportamento, modo de se vestir, pensamentos e falas da juventude aqui no Brasil. Eles ajudaram a implantar um pensamento que já vinha ganhando força há muito tempo, de que só precisamos curtir e deixar de lado as responsabilidades, os deveres que temos enquanto pessoas e cidadãos.
ResponderExcluirTemos, assim, uma geração muito alienada, que só vê seu próprio mundinho e esquece de todo o resto. Claro, isso não vale para todos, mas, infelizmente, acaba sendo quase uma regra geral. E, certamente, aí pra fora a coisa não deve ser tão diferente.
continuo gostando da Avril, ráaaaaaaaaa.
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