domingo, 18 de julho de 2010

Olhando por outro lado...


Acho que parece até uma mania minha vir aqui e retomar o assunto de postagens anteriores, mas é algo a que precisamos começar a nos acostumar - ou não. Enfim, só queria dizer que a dor no dente finalmente se foi e agora eu já posso me alimentar e falar feito uma pessoa normal,embora ainda esteja longe de tornar-me uma. Continuo, no entanto, a ouvir meu celular tocar às oito da manhã pra me lembrar que já está na hora de tomar o antibiótico; sexta-feira, felizmente, isso já não será mais necessário, pois a receita pede apenas sete dias de medicação. 
Anyway, provavelmente é perceptível que o assunto do texto não é esse. Talvez não me estenda muito nessa publicação, porém necessito urgentemente dizer isso: estar aqui com o Fernando esses dias me fez perceber algumas coisas, notar muitos detalhes que geralmente passam totalmente desapercebidos a todos nós. Reclamamos tanto da nossa cidade, do nosso bairro, das pessoas ao nosso redor, da nossa condição financeira e de muitíssimas outras coisas, esquecendo-nos completamente de agradecer um bocado por aquilo que possuímos. Às vezes insinuamos até uma superioridade exacerbada dos atributos do vizinho em relação aos nossos, acabando por desprezar ou diminuir a importância de nossas próprias qualidades. Por que digo isso? A resposta é fácil: Belém, de acordo com a descrição dele, não chega nem aos pés de São Paulo.
Eu achava, por exemplo, que minha cidade era suja demais e me sentia mal em ver papéis de bala e afins largados no meio da rua até ouvir de um paraense que nos lugares públicos de sua terra o lodo do esgoto corre ao longo da sarjeta, a céu aberto. O cheiro, de acordo com ele, é forte o bastante para incomodar. Via as pessoas daqui como absurdamente mal educadas antes de saber que lá seria em vão esperar desculpas de alguém após um esbarrão ou um pisão no pé; no máximo lançar-se-iam olhares maldosos e revoltados, preâmbulos de uma boa confusão. Se aqui nos incomodamos com locais cheios somente pelo fato de estarem abarrotados de gente, lá contamos ainda com uma falação alta e exasperada, totalmente desmedida, capaz de fazer qualquer um perder metade de sua audição em menos de dez minutos. E não esperemos achar  nesse território um ônibus limpo ou com a manutenção em dia - claro, essa é feita quando a locomoção do veículo torna-se totalmente inviável -, pois a maioria deveria estar proibida de circular em função da ameaça que representam à saude e bem-estar públicos.
Hoje ainda me espantei quando ele perguntou se poderia ligar para sua mãe enquanto caminhávamos, por volta de dez horas da noite. "Ué, por que não poderia?", indaguei em toda a minha inocência. "Porque senão somos assaltados". Tá, claro que o bom senso apita ao estarmos com qualquer aparelho eletrônico em mãos numa rua deserta e escura, localizada em algum bairro da periferia, mas certamente ficaríamos tranquilos ao fazê-lo numa avenida bem iluminada, movimentada e munida de dois quartéis da Polícia Militar. Lá, entretanto, não interessa o horário ou o quão cheia possa estar, a rua nunca parece ser segura. Se pararmos pra comentar sobre o estilo de música popular, entraremos num dilema insolucionável: será ela pior ou equiparável ao tão odiado funk? Difícil dizer, pior ainda ser obrigado a ouvir.
Tantas comparações só me fazem pensar que talvez eu seja imensamente privilegiado e apenas não havia me dado conta de tal coisa até então. Afinal, parece-me que reclamo de barriga cheia; ainda assim, isso não é motivo para achar que tudo está às mil maravilhas, pois isso seria total ilusão. Deveríamos somente tentar admitir que a situação não é tão catastrófica quanto parece, mesmo sendo capaz de nos incomodar. Olhando por outro lado e analisando o relato de um morador de Belém constatamos que podemos ser um pouco mais felizes e sorridentes, necessitando, para tanto, somente parar um pouco de julgar e desdenhar de tudo que faz parte de nosso cotidiano. Até porque no norte do país, diferentemente daqui, nem os idosos tem sua vez, pelo menos não para os motoristas de ônibus; ao estarem sós e darem sinal para o veículo são absolutamente ignorados e deixados para trás, pois, no fim das contas, não pagariam a passagem de qualquer forma.

Um comentário:

  1. Realmente as diferenças existem, e infelizmente existe um lugar pior que a nossa cidade. Mas também temos que lembrar de uma coisa, as mudanças podem vir, mesmo que lentas, pois as pessoas apresentam a tendência de se acomodar e não querer mudar. Espero que essas cidades melhorem cada dia mais e a nossa também, já que existem muitas coisas que não estamos satisfeitos e a mudança é possível de ocorrer.
    Mudando de assunto... tenho algumas idéias para seus próximos posts, como por exemplo seus relatos de suas viagens, sobre o que te impressionou nesses novos lugares (cultura e meio ambiente, são o meu pedido hahahha).
    Bj
    PS: adorei seu blog, tento ler pelo menos uma vez por semana. Continue postando.

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