quarta-feira, 30 de maio de 2012

Evanescer

Sangrou a última gota,
um coração já vazio,
uma melodia já oca,
sem ritmo, sem maestro.
Sem maestro, sem batida.
Não como a chuva a se debulhar,
e sim como uma lágrima escondida,
daquelas que não ousam se mostrar.
Um dia, uma noite, mil e uma noites
ele esperaria, mas hoje não é dia.
Hoje não é uma noite, menos ainda mil e uma.
Segue a estrada, seu coração já de pedra,
escuro, sem luz como a noite a guiá-lo.
Seus fantasmas a persegui-lo,
medos dele tentando arrancar.
Mas já não é mais o mesmo;
sua melodia secou e morreu.
Sangrou, como sangra a vida,
como sangra o que tem vida.
Como gela o frio da morte,
congelou, endureceu, mais que pedra virou.
E hoje não se acha mais seu sol,
seu sol que brilhava sem fim.
A luz se apagou, as nuvens nublaram seu céu,
nublaram seu ser.
Morrem mil, nasce um.
Evanescem todos antes do cair da noite,
todos que luz um dia tiveram.
Sangra a última gota,
cessa a música, apaga-se o fogo,
morre a batida e bate o coração sua última vez.
Dali em diante, só rochas,
pois rochas não sangram.