domingo, 1 de julho de 2012

Meio-termo

Sou um muro, um muro em cima de outro muro. Se a incerteza causo, ela também sou. Um misto de descrença e fé, algo entre o céu e o inferno. O elo perdido que conecta a perversão à santidade. Não me chamem de bom, pois meus pensamentos escondidos, lacrados e enclausurados, desfazem qualquer bondade. A maledicência não me toma por natureza, mas seus traços em minhas ações se passam por sutis. Se disseres ser eu a pureza, respondo-lhe que puros são teus olhos, inocentes demais para ver os chifres por detrás da auréola. Nem branco, nem preto: o cinza me agrada mais. Se dou dois passos adiante, penso em recuar três e estanco por não saber pra onde ir. A luz insiste em invadir minhas trevas, mas estas, por sua vez, tão teimosas quanto a primeira são. Se desfazem por segundos e tomam conta por minutos. Uma década pretendo respirar, nunca um segundo ou um milênio. Quisera eu sorrir de felicidade; a tristeza, porém, me faz mais alegre. Minha lágrima até não sabe se escorre pelo rosto ou retorna ao olho. Meu suor se atemoriza diante do mundo, mas odeia demais meu corpo para nele ficar. Abutres que me ceifem, de mim um estupendo jantar façam! Não garanto, todavia, encher-lhes o estômago. Ficarão mais indecisos se saciados estão ou se por mais anseiam.
Aliás, talvez indecisão seja meu nome. 8 e 80 não me pertencem, antes fico com o meio. Um meio-termo extremista, que não cede nem perde. Não ganha, nem empata. Não morre, nem vive. Apenas é, apenas me faz. Apenas faz o "eu" que sou. Eu que meio é, resistente demais para ser pouco ou muito. O meio que jamais andou, o termo que na metade do caminho parou.

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