sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A destruição inerente

Um enigma sem solução, a charada à qual ainda falta resposta. Não fosse eu respondê-la talvez nenhuma alma o fizesse; difícil crer que mesmo o desalmado tal êxito alcançasse. Olhei para os lados, sem encontrar o suposto objeto tão mencionado. Disseram-me algumas dezenas de vezes ser infinitamente melhor procurar dentro de si, entretanto. Mas como seguir um conselho dessa natureza se nem mesmo creio haver algo no interior para a visão tentar buscar? Estão todos errados, concluo! Nada sabem, sobre nada falam! Enchem suas bocas de vãs palavras, prontas a serem lançadas para os inferiores idealizados. Se me imputam esta condição já não faz diferença. Inferior ou superior, o despropósito parece não variar tanto, tampouco diretamente. Inúteis são, embora úteis tentem fazer-se. É o nosso destino; inescapável como o dia de amanhã. Não para todos, haveremos de concordar.
A alguns tomo por certo a não existência do amanhã. Se deixarem seu ar escapar, voar, se perder; se a psyché puder caminhar com suas próprias pernas; se seu "eu" lhes abandonar e sozinho se puser a vagar é provável que não abram os olhos novamente. Uma pena será, no entanto, não haver Hades para ir. Talvez isso faça alguma diferença. Talvez o último suspiro antes do esquecimento eterno traga alguns tremores, embora os astrônomos possam posteriormente afirmar não terem notado oscilações na organização espacial dos planetas. Nem um astro novo, para a infelicidade de muitos. Dirão também os geólogos que a Terra em nada se alterou e com estes concordarão os físicos; por descuido, todavia, esquecerão a redução do espaço ocupado, posto haver um corpo a menos se movendo pela superfície terrestre. Mexendo um pouco no esquadro e ajustando as medidas torna-se fácil perceber a insignificância da vida humana, não?
Mas teimam, ainda assim, em inflar-se como se verdadeiros deuses fossem. Pouco importa que lhes falte capacidade de administrar suas próprias vidas; sabem fazê-lo bem demais quando se trata dos interesses alheios. Alguns anos na escola, estudo gramatical e grande aquisição vocabular não são suficientes para que recordem a importância do outro a fim de se construir o diálogo ou mesmo o conceito de "respeito". Poderiam refazer a lição de casa se tivessem mais tempo, mas não estou certo de sua capacidade de aprendizado. Reencarnações poderiam, portanto, não se prestarem à utilidade. Mesquinhos, hipócritas. Tão hipócrita quanto este que agora rearranja estas palavras. Farinha do mesmo saco. Inescapável, certo? Imutável, quiçá.
No final, pouco sentido há em responder a questão. A esfinge pode esperar muito tempo. Sua fome é saciada diariamente com aqueles que não chegam ao amanhã. E tudo por, provavelmente, não saberem a resposta. Mas se soubéssemos haveríamos de devorar-nos uns aos outros? Outra pergunta sem solução. A verdade é que mesmo sem resposta já nos devoramos. O homem pode ser o lobo do homem, mas certamente é também uma esfinge. Esfinge sem conhecimento, que não sabe realmente aquilo que desejaria escutar e devora, então, absolutamente tudo.

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